Há uma desventura em cada olhar. Um indistinto sinal de uma
mácula interior imanente. É neste código que se desvendam as omissões.
O optimismo socorre-se de farsas versejadas. A convicção do arejo das ideias, da bendita do
futuro, é a falácia do demagogo. O tempo não confere alívio. A correnteza dos
dias repassam as nódoas passadas.
É no olhar que encontramos o eco das incertezas, das angústias,
das demissões da esperança. Apenas a expressão da vista é verdadeira. Importa
saber reconhecer essa anunciação. É aí que tudo se encontra, a tremenda
revelação da única verdade.
De nada importa a conversa. A transacção das ideias é
o jogo dos farsantes, que buscam razões, confundindo-as com justificações, sem
nada compreenderem. Deixemo-nos ficar em silêncio, rente à almofada e olhemos. Tombemo-nos
um no outro em secreto intimismo. Adoremos o fulgor da única verdade
desvendar-se nas cambiantes expressivas de um olhar, no instante de
cumplicidade íntima, quedados, sem pronúncia do verbo que maltrata o amplexo
das almas.