quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Sossego

Amiúde debato-me com a futilidade da introspecção. O tempo sugere-me quão dispensável é o que na realidade somos. É bastante a todo o momento o que aparentamos, ou damos forma. Para quê pensar, quando nada nos leva para lá desta fracção de tempo, ou nos torna divisível. Nunca nos ultrapassaremos na nossa condição de minúsculas amostras de matéria, reflexo de uma amalgama que o Universo na sua indecifrável complexidade tolerou, em breves instantes de um tempo Cósmico.

Como é bom deixar-me levar pelo tempo. Seguir em alegre contemplação a queda da folha da árvore, sem certezas, nem explicações. Naquele movimento errante percorrido até se deixar deitar no solo em repouso, em antecipação da putrefacção que a natureza escrupulosamente preparou para a matéria do Carbono.

Deixo-me respirar o momento, cada momento, em contemplação, sem aspirações nem molduras, e então talvez me reencontre com o sossego.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Memória do dia

Há uma conjugação eternamente insolúvel nas contradições entre os constrangimentos magnânimes e sempre urgentes da vida profissional que nos dilaceram, em desacerto com as minudências de uma vida que se arrasta e que tem a seu cargo tudo o que está por fazer, as inúmeras boas razões por preencher, as metas generosas que deixamos por alcançar.

Não há modo de preconizar bom resultado num jogo sem solução. O estado de alma na sua sempre frágil condição é antes demais uma resultante. Não direi uma bissectriz de um jogos de forças adversas, talvez sim a medida de uma efervescência, tão intensa quanto maior a dissonância expressa.

E todavia, a espaços somos levados exercer o direito à fé. Uma emanação da crença. Alimentamos uma esperança, sem substância, nem contorno. Consumamos todo o bom propósito de fazer num rasgo, o reflexo de uma dádiva que refresque a alma. Nesse instante somos diferentes, deixamo-nos levar na fugaz verdade comovente de um bem-estar sem medida. E agarramo-nos sem recusa, apesar de toda a reserva imposta pelo senso. Queremos e isso basta. Como é bom querer e desejar querer.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Dos limites do julgamento Moral





The administration of the great system of the universe ... the care of the universal happiness of all rational and sensible beings, is the business of God and not of man. To man is allotted a much humbler department, but one much more suitable to the weakness of his powers, and to the narrowness of his comprehension: the care of his own happiness, of that of his family, his friends, his country.... But though we are ... endowed with a very strong desire of those ends, it has been entrusted to the slow and uncertain determinations of our reason to find out the proper means of bringing them about. Nature has directed us to the greater part of these by original and immediate instincts. Hunger, thirst, the passion which unites the two sexes, and the dread of pain, prompt us to apply those means for their own sakes, and without any consideration of their tendency to those beneficent ends which the great Director of nature intended to produce by them.


Adam Smith in






segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Suspiro intranquilo

Atormento-me demasiadas vezes por razões incertas, que nem a mais experimentada compreensão da condição humana consegue tornar perceptível. Trata-se de uma dor vivida, impregnada de angústia, que leva a um caminho feito de nada. Fundada num evento que apenas o contexto dá valor, mas nada de fundo, sério, ou substantivo.

Com a mesma frequência me interrogo, para quê tanta incerteza? De onde vem esta lamúria oca, inconsequente e fútil?

Não há boas resposta para perguntas débeis. É espúrio o esforço daquele que procura criar consistência sobre um saco de vento. Tudo é vago, imponderado e condoído.

Adivinho o sinal de uma razão pueril, mimada pela sorte, impreparada para a adversidade, que se sente impotente de encontrar propósito para as suas acções. Se recusa a ser agente. Não encontra modo de ser determinante num destino, que é só seu, condição da maior solidão do mundo.

Escusado será o choro. Ridículo é o escrutínio de cada momento. Sugere-se a referência atenta à sabedoria dos antigos. Eles são fonte inspiradora da maior serenidade. Cimentam o saber na certeza da fragilidade do traço humano. Não há obras perenes. Encontramos antes rasgos momentâneos, que os contemporâneos, por deslumbramento, confusão, ou conformismo, aplaudem, ou pateiam por motivações extemporâneas.